Convidamos Larissa Santiago do Blogueiras Negras para escrever em nosso blog. Aqui está sua coluna sobre comunicação pública, desinformação e novas tecnologias de informação.

Esse ano, em setembro, as Blogueiras Negras conversaram com integrantes do projeto Abre Alcaldías da Fundação Cidadania Inteligente sobre processos, estratégias e desafios da comunicação para a incidência política. Dentre os participantes, funcionários públicos, comunicadores e ativistas que, com base na chamada “pergunte o que quiser”, interagiram e trocaram impressões sobre os contextos das diferentes cidades da América Latina.

Neste exato momento, a região passa por intensos acontecimentos nos principais países, que refletem a conjuntura política num momento de efervescência política. O Chile acaba de viver um processo de plebiscito para a construção popular de uma nova constituição; a Bolívia em novo pleito, elege Luis Arce, candidato do partido Movimento ao Socialismo (MAS); além de no Brasil estarmos vivendo o ano das eleições municipais, onde serão escolhidos na próxima semana os prefeitos das mais de 5.000 cidades do país.

É nesse cenário em que conversamos sobre os desafios, a partir da perspectiva das mulheres negras, já que as Blogueiras Negras são uma organização que atua diretamente com o direito desta parte significativa da população brasileira. Na nossa conversa, abordamos sobretudo quais são os desafios de engajar as cidadãs e cidadãos latinoamericanos quando vivemos tempos onde a democracia passar por momentos críticos, sobretudo quando olhamos para o agravamento das desigualdades sociais, a crescente militarização dos governos e a criminalização de movimentos sociais.

Na nossa troca, ressaltamos a importância de fortalecer a comunicação entre as instâncias de poder institucional e os movimentos sociais, incentivando não somente que estes últimos aprendam e participem dos mecanismos de controle social - em geral burocráticos e entediantes - mas também criando novas alternativas de advocacy, como é o caso das ferramentas que temos chamado de tecnologia cívica. Assim como é importante aprender como atuar nos mecanismos tradicionais, locais, nacionais e internacionais, acreditamos ser possível inventar, elaborar e disseminar outras formas de incidência que não necessariamente as convencionais, afinal as mulheres negras - assim como outros grupos minorizados - são sistematicamente afastados desses espaços de decisão.

Conversamos também sobre quais são essas alternativas e o que as mulheres negras tem feito no Brasil, e ao falarmos da comunicação como um dos vetores da ação política, reiteramos a necessidade de valorizar a construção de narrativas nos diferentes meios, da importância de apoiar financeiramente os projetos das mulheres negras e de criar pontes entre as novas gerações para que seja possível um novo jeito de incidência na política.

Considerando nossos cenários hoje, onde a crise pandêmica nos impõe a desafios políticos, a nossa troca no Abre Alcaldías se tornou um espaço criativo em que as experiências das diferentes pessoas ao redor da América Latina fornece um arcabouço de alternativas para pensar novas democracias possíveis e a exemplo do que temos vivido, validamos naquele encontro que a nossa região tem oferecido a governos, organizações, cidadãs e cidadãos possibilidades transformadoras e novos modus de construir projetos políticos plurais, mais equânimes e que tenham os direitos humanos como valores inegociáveis.